domingo, janeiro 26

Saudações

Como post de estréia, nada melhor que um post sobre a estréia. 
     Emergindo na superfície do oceano devastador das Histórias Para Se Contar, na qual vivo vida de sereia, vou aqui me permitir uma golfada de ar. Logo mais nem lembrarei dela, absorta que estarei nas correntezas das Paixões, nos abissais dos Dramas, nos corais da Comédia. E lhes prometo: é só uma golfada. Só essa.
     Quem escreve sabe que as obscuras vielas de pensamento percorridas durante o ato de contar são caminhos para serem trilhados sozinhos. É desgastante, por vezes, ou sublime, por outras. Mas o mapa dessas andanças não é jamais levado a púbico. Por comum acordo de desnecessidade (de quem escreve e quem lê), fica-se com o produto final e material, o texto. Porque, afinal, nada mais é preciso, uma vez que se o tem.
     Entretanto, em raras ocasiões (como, por exemplo, só para contextualizar, a inauguração de um blog), é bom, útil e apreciado dar algumas satisfações. É preciso uma justificativa para lançar nesse outro oceano, dessa vez virtual, um recém-nascido a mais. É preciso mostrar que apesar de recém-nascido, não é indefeso e, ora vejam, até que fala com certa eloquência.
     O Desabotoado é, como na maioria dos casos é, a concretização de uma vontade, uma fascinação e uma dor, que corre pelo mundo sob o nome escrever. Cada um escreve por um motivo. Eu ainda não sei os meus. Quaisquer que sejam, são muito bons em esconde-esconde, porque sempre acho que os encontrei, rindo à toa da minha cega procura, mas quando vejo, não há nada debaixo da cama. Por outro lado, não consigo imaginar nada melhor para meus motivos do que serem eternas crianças a brincas de esconde-esconde.
     O nome do blog vem de uma descrição que ouvi há certo tempo. Desabotoar, ato corriqueiro, bastam dois dedos para fazê-lo, nunca tinha sido objeto da minha reflexão. Até que alguém resolveu descrever, em vez de uma camisa desabotoada, uma pessoa desabotoada. E então, por cinco segundos, o mundo saiu um pouco dos eixos.
     Ora, veja só, como pude, como nunca passou pela minha mente que alguém pudesse ser desabotoado, a coisa mais lógica do mundo, e olha só o sentido que faz, você conhece uma porção de pessoas que fazem jus a esse adjetivo e, mesmo assim, nunca lhe calhou de chamar ninguém assim?
     Desabotoar-se é a pretensão desse blog. Livrar-se daquelas camadas inúteis, que só fazem abafar-nos sem razão. Revelar, respeitosa mas travessamente,  aquele pedacinho de pele que nunca antes alguém viu. Tornar-se, no melhor sentido da palavra, desabotoado de alma. Por isso, uma última declaração: bem-vindo, desabotoe-se.


Desculpem os erros e a ligeira incoerência; o texto foi escrito às pressas.